Mas não é único nessa visão: a imprensa estrangeira está farta em temores, suspeitas e até grosserias mais rombudas do que a francesa. Só aqui o comprometimento do Brasil, por decisão pessoal de Lula, com o risco Irã, está cercado de apatia.
Mas o avanço de Lula, sem admitir sequer ressalvas ao Irã, dá razão a questionamentos. De onde, por exemplo, extrai tanta certeza de que o projeto nuclear iraniano é todo ele pacífico, apesar da recusa a inspeções amplas? E há, ainda, a progressão dos níveis de enriquecimento do urânio.
Os indícios de que o Brasil é usado pelo Irã, na protelação de possíveis soluções para o impasse internacional, multiplicam-se há bastante tempo. Somos o país que tem a confiança do Irã para encaminhamento de soluções aventadas, e, se alguma perspectiva desponta nessa linha, logo deixamos de servir.
Uma contradição ilustrativa, nesse sentido, passou em branco por aqui nos últimos dias. Principal conselheiro de Ahmadinejad em assuntos internacionais, Ali Akbar Valayati negou com muita ênfase, na sexta-feira 30 de abril, que o Irã sequer admita negociação para receber do exterior urânio mais
enriquecido, em troca de manter níveis baixos (não militares) em suas usinas.
A proposta de negociação, em que o Brasil se destaca, segundo o mensageiro iraniano "demonstra intenções satânicas". Passados apenas quatro dias, Ahmadinejad disse em Nova York, segundo o site do seu gabinete, aprovar a oferta do Brasil de intermediar a proposta de troca de urânio com o exterior. É o jogo em que o Brasil é posto como um pêndulo. Se não combinado, ao menos com aceitação.
Há, porém, mais indagações sobre a atitude de Lula que a da base misteriosa, se existe, para sua insistência em que o projeto nuclear do Irã é só pacífico.
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